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Os criacionistas não desistem e continuam a querer uma suposta igualdade de tratamento entre a sua visão e aquela que a ciência defende. A noção de igualdade não tem qualquer validade quando o que está em causa são duas teorias oponentes, em que uma tem sido continuamente comprovada, e a outra subsiste devido à ignorância e ao fanatismo de pessoas que querem impor o modelo da criação do mundo em seis dias, apesar de nenhum dado científico o sugerir. Ao longo do século XX a cosmologia permitiu conhecer em grande detalhe o modo como se desenrolou a evolução do Universo, descartando qualquer possibilidade semelhante modelo ser verosímil. Não por acaso, a Igreja Católica assume hoje o carácter alegórico do Génesis. Mas essa sabedoria ainda não chegou aos criacionistas.
Seis dias não são suficientes, por exemplo, para a formação de estrelas. Só para ocorrer a dissociação entre matéria e radiação foi preciso esperar que a temperatura do Universo descesse até aos 3000 K, o que demorou aproximadamente 300 000 anos. A esta temperatura a radiação existente no Universo não tem energia suficiente para destruir os átomos criados, e os electrões são aprisionados pelos núcleos, formando os primeiros átomos estáveis, como hidrogénio e hélio. É nessa altura também que o Universo se torna “transparente” porque a dissociação entre matéria e radiação permite que os fotões fiquem livres possibilitando que estes cheguem até nós, tornando essa época visível nos satélites como COBE. Como se isso não fosse suficiente, a formação das primeiras estrelas de acordo com os últimos modelos só terá ocorrido entre duzentos e quatrocentos milhões de anos depois do Big Bang. Mesmo que o aparecimento das primeiras estrelas esteja sujeito alterações temporais, ninguém acredita que as primeiras estrelas possam ter precedido os primeiros átomos. Com estes dados a história dos seis dias é demasiado ridícula para poder ser levada a sério. Pior do que isso, as primeiras estrelas (ditas estrelas de população III) tinham propriedades bem diferentes da nossa estrela. O Sol é uma estrela de população I e foi preciso esperar mais de oito mil milhões de anos após o Big Bang para que nascesse.
Mas nos Estados Unidos isto é assunto de discussão e George W. Bush admite que os criacionistas têm direito a expressar o seu ponto de vista. É preciso que as pessoas percebam que em ciência o direito de transmitir uma dada informação ou interpretação da dinâmica da natureza implica uma concordância da teoria com os dados observados. Imagine-se que cada cientista exigia que a sua teoria fosse respeitada, mesmo que esta estivesse desfasada dos dados experimentais? Ridículo não é? Ao nível dos cientistas loucos que aparecem em muitos filmes. Mas é precisamente isto que os criacionistas pretendem. Espero que esta absoluta estupidez não atinja a Europa. Será que algum professor de Biologia português aceitaria leccionar a teoria do criacionismo?
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