Tuesday, May 09, 2006

Trabalhos forçados

Há qualquer coisa que não está a funcionar bem no Ministério da Educação. (…)

O problema reside em considerar os professores como meros funcionários públicos e colocá-los na escola em sumária situação de bombeiros prontos para ocorrer à sineta de alarme. Mas a multiplicação de reuniões sobre tudo e mais alguma coisa não permite que o professor prossiga na sua formação científica. Quando poderá ler, quando poderá trabalhar, quando poderá actualizar-se? Não é certamente nas escolas que existem condições para isso. (…)

Pelo caminho que as coisas estão a tomar, assistiremos a uma barbarização dos professores cada vez mais desmotivados, cuja única obsessão passa a ser defenderem-se dos insultos e dos inqualificáveis palavrões que ouvem à sua volta. A escola transforma-se num espaço de batalha campal, com o apoio da demagogia dos paizinhos, que acham sempre que os seus filhos são angelicais cabeças louras. E com a cumplicidade dos pedagogos do ministério. Quando precisaríamos como de pão para a boca de um ensino sólido, estamos a criar uma escola tonta e insensata.

Nesta benemérita tarefa tem-se destacado o secretário de Estado Valter Lemos. (…)

Vem agora dizer que o professor deve avisar previamente que vai faltar, o que no limite significa que eu prevejo com alguns dias de antecedência a dor de dentes ou a crise de fígado que vou ter. E que deve dar o plano da aula que poria em prática caso estivesse em condições. Donde, as matérias são totalmente independentes de quem as ensina, basta pegar no manual, e ala que se faz tarde. Começa a tornar-se urgente uma remodelação do Governo, mas isso é tema delicado a que voltarei mais tarde.

(O Fio do Horizonte de Eduardo Prado Coelho no Público de hoje)

Já era tempo de alguém vir defender os professores do ensino não universitário. Numa altura que tanto se fala da necessidade de aumentar as qualificações dos portugueses a educação devia ser prioritária. Mas aquilo que se vê é um Ministério da Educação apenas interessado em poupar dinheiro. Turmas com mais de 25 alunos continuam a ser uma realidade, num país onde os resultados estão longe de ser bons. Mas em turmas tão numerosas serão de espantar taxas de desistência tão elevadas?

3 Comments:

Blogger SIPO said...

Será por estas e por outras que pessoas como a minha mãe olham para o anterior cargo na docência e, apesar do gosto pelo ensino, dizem: «Do que eu me livrei»!

Concordo plenamente com o que foi mencionado. Alguém deve estar a precisar de uma falta a vermelho e quer-me parecer que não são propriamente os professores...

10:03  
Blogger Mono said...

A miséria é tal que 99% dos professores só estão à espera de uma qualquer oportunidade para sair do ensino.
Os restantes 1% estão à espera da reforma...

15:55  
Blogger brunobd said...

SIPO e el mono têm ambos razão.

Mas o pior é que só com mais educação este país pode sair da situação actual. Como não estou a ver ninguém a estar disposto a perder poder de compra, só nos podemos safar com mais know-how.

Se desistimos só podemos competir com baixos salários. Mas como é que se combatem os baixos salários da Ásia?

Mas depois deste desabafo volta aos posts de astronomia e física. Os cientistas pelo menos divertem-se em grande com as descobertas que fazem.

01:52  

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