Friday, May 05, 2006

A constante cosmológica infiel

São notícias como esta que tornam a ciência fascinante. Havia quem especulasse sobre a possibilidade do Universo poder nascer e morrer continuamente. Para a teoria actual tudo começou há 13,5 mil milhões de anos. Interrogar um cientista sobre o que se passou antes, no âmbito da teoria vigente, não faria sentido.

Mas o modelo do Big Bang tem vários problemas. Foram estes que levaram João Magueijo a colocar a hipótese da variação da velocidade da luz ao longo do tempo. Com esta conjectura o físico português pretendia fornecer uma alternativa à teoria da inflação. O problema que interessa para esta história prende-se com a constante cosmológica. Nos anos 20 Einstein apercebeu-se que as suas equações implicavam um universo não estático. Como não aceitou essa solução, adicionou um termo – constante cosmológica – que permitia manter o Universo estático. Mais tarde, depois de Edwin Hubble ter observado o desvio para o vermelho nas galáxias, Einstein disse que este tinha sido o maior erro da sua vida.

Mas a ciência percorre um caminho muito sinuoso e muitas vezes aquilo que parece errado, torna-se a solução. Um dos resultados mais intrigantes da cosmologia actual é o aumento da velocidade de afastamento das galáxias. E eis que a constante cosmológica surge como uma das possíveis soluções. A discrepância entre o valor que esta deveria ter, de acordo com a teoria, e aquele que é observado é uma das grandes dificuldades actuais. A diferença é superior a 1 googol (10100).

Paul Steinhardt e Neil Turok surgem agora com uma solução engenhosa. A ideia de um Universo cíclico não é nova. Aquilo que é novo é propor a hipótese do valor da constante cosmológica já ter sido muito grande mas entretanto, depois de muitos Big Bangs e Big Crunchs, tenha diminuído para o seu valor actual. Isso significa que o valor da constante cosmológica seria a única informação que passaria de um universo findo para o novo.

Para já é apenas uma teoria mas são precisamente estes saltos na imaginação que tornam a ciência tão apaixonante.

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