Friday, January 27, 2006

The Prisoner of Shark Island - DVD

Estão desde segunda-feira disponíveis mais dois títulos da colecção Masters of Cinema da editora Eureka. A minha atenção vai contudo para o dia 20 de Março. Nessa data a mesma editora lança The Prisoner of Shark Island. Quando eu o comprar será o terceiro filme de John Ford na minha DVDteca. Os outros dois são Stagecoach e She Wore a Yellow Ribbon das Editions Montparnasse.

Se já tinha visto os outros dois, antes do DVD, vou ver este filme de 1936, pela primeira vez, graças ao DVD. Este formato permite a cada um de nós programar a nossa própria cinéfilia. Antes do DVD só podíamos contar com a cinemateca (ou RTP2) para ver filmes antigos para colmatar ou apurar o nosso conhecimento sobre um dado período ou realizador.

Quando referimos as nossas preferências, deveríamos honestamente dar, a quem nos escuta, a lista dos filmes que vimos. Por vezes os filmes que não vimos são tão determinantes para as nossas listas, como aqueles que já vimos.

Alguma vez poderemos dizer qual é o nosso John Ford preferido? Perante uma obra tão imensa vão faltar sempre vários filmes. E obviamente não estou a falar daqueles que se perderam (para sempre?). Falo por exemplo do filme que será editado em Março pela Eureka. Podem-me dizer que está longe de ser um dos filmes essenciais de John Ford. Seria pior não ter visto ainda Stagecoach, continuam. Mas a verdade é que, por vezes, as surpresas vêm precisamente de filmes menos citados.

Dos filmes de John Ford que já vi, The Man Who Shot Liberty Valence, surge como o meu preferido. James Stewart interpreta Ransom Stoddard e assina um dos papeis mais Caprianos de sempre, nas mãos de Ford. As personagens de Frank Capra acreditam num mundo melhor e na capacidade de regeneração e redenção do ser humano. Stoddard partilha os valores humanistas habituais das personagens de Capra. Stoddard defendia as suas convicções de jovem advogado com veemência. Acreditava no direito do ser humano em expressar livremente as suas opiniões. A imprensa assumia, para ele, um carácter decisivo, pois permitia tornar reais, estes direitos. Era através desta, e da educação, que as pessoas podiam ser esclarecidas.

Mas o universo de Ford é mais rude e desencantado do que o de Capra. Aqui a regeneração não acontece. Stoddard sem a ajuda de ninguém seria simplesmente humilhado, derrotado e finalmente morto. Tom Doniphon (John Wayne) evita que isso aconteça. O seu acto permite que o novo mundo das palavras triunfe sobre o das armas. O tiro que dispara contra Liberty Valance (Lee Marvin) é o último gesto de um tempo que finda. A grande ironia deste filme é que ao fazer isso o tempo de homens como tom também cessa. No futuro o mal combater-se-á através no mundo da lei e da política. Os homens do coldre deram lugar aos futuros senadores como Ransom Stoddard.

Em Capra há uma dialéctica entre o idealista que quer mudar o mundo e o cínico que acaba por se converter à fé do primeiro. Em Ford essa possibilidade não existe. O mal nunca se afastará sem ser derrotado. Nos filmes de Capra os cínicos precisam apenas que alguém lhes volte a dar esperança. O papel dos idealistas é exactamente esse: se Jefferson Smith (Mr. Smith Goes to Washington) acredita que é possível lutar contra os poderosos, que desculpa têm aqueles que se converteram ao sistema. O seu calculismo é destruído pela tenacidade e romantismo de homens puros. Assim, para Capra, não há seres intrinsecamente maus; são as circunstâncias que os fazem. Cabe ao idealista mostrar que nenhuma desculpa serve para abraçar o território do mal.

Esse mal dilui-se em Capra, vindo ao de cima em Ford. O mal absoluto, com o qual não pode haver negociação nem contemplações é explicitado no líder dos Clanton (My Darling Clementine), Shiloh Clegg (Wagon Master) e o próprio Liberty Valence. Para Ford não há mistura possível.

As personagens maléficas de Ford não têm redenção possível. Nos seus últimos filmes essa separação de águas torna-se menos evidente e The Seachers é frequentemente dado como o exemplo supremo disso. No entanto em Cheyenne Autumn isso é talvez ainda mais evidente. Mas será que só no crepúsculo da sua vida Ford soube da existência e se preocupou com os sentimentos do outro, daquele que é marginalizado?

Stagecoach, estreado em 1939, prova que não. No decorrer do filme uma autêntica reviravolta no status social de cada uma das suas personagens. A prostituta, o médico imprestável e o cowboy solitário adquirem perante o espectador uma grandeza enorme. Por outro lado as personagens enfatuadas – e socialmente respeitadas – exibem no fim do filme toda a sua fealdade. As suas únicas preocupações são as aparências, o seu bem-estar e um absoluto desprezo por tudo o resto.

4 Comments:

Blogger Mono said...

Vi a maior parte dos Ford´s anos atrás quando o Lauro António tinha um programa na TVI. Salvo erro era aos domingos.

16:14  
Blogger brunobd said...

A maior parte?

O homem tem mais de cem filmes feitos! Mesmo descontando aqueles que se perderam ainda dá umas boas horas à frente da TV :)

Eu também já vi alguns (pelas minhas contas: 19) mas isso é muito pouco comparado com aquilo que ele fez.

Qual é o teu score? ;)

20:05  
Blogger Mono said...

Pois... Acho que estou limitado aos mais conhecidos, ou a poucos mais que os que o Lauro António passou. eh eh
Por acaso não conhecia este The Prisoner of Shark Island.
Regards

20:11  
Blogger Mono said...

144 segundo o imdb. Chiça! Vou contar os q já vi, mas os do tempo do cinema mudo não vi de certeza.

20:12  

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