Sunday, January 22, 2006

E o vencedor é...

08:00 PM – Será a essa hora que vamos conhecer as primeiras projecções, que serão depois aferidas ao longo da noite. Tudo aponta para uma vitória do professor Cavaco Silva. Os portugueses voltam novamente a acreditar num D. Sebastião para resolver os seus problemas.

Eu não critico os votos daqueles que sempre apoiaram candidatos de direita. É perfeitamente legitimo votarem no candidato que os representa. Aquilo que me choca é incapacidade de discernir, de quem, sendo de esquerda, vota encandeado em Cavaco Silva, vendo nele O novo Desejado. Só estes justificam a possibilidade deste poder ganhar à primeira volta.

Entre críticas aos candidatos de esquerda estão: a velhice de Soares; o oportunismo político de Alegre; o estalinismo de Jerónimo de Sousa; as questões fracturantes de Francisco Louçã; já para não falar do invisível Garcia Pereira.

Se o meu voto nunca iria para Jerónimo de Sousa e Garcia Pereira, qualquer um dos outros poderia à partida colher o meu voto. Infelizmente a estima que tinha por Manuel Alegre, diluiu-se ao longo da campanha eleitoral. Um homem que procura obter o apoio eleitoral de um partido, que toda a sua vida serviu (e do qual foi um destacado militante) e depois, por puro oportunismo, afirma-se apartidário não merece a minha confiança. Alegre utiliza mesmo esse argumento, como algo de positivo – aproximando-se, desse modo, perigosamente do candidato Cavaco Silva. Mas que valor tem o apartidarismo de Alegre, quando este foi claramente foi rejeitado pelo seu partido? Isto faz lembrar os meninos que levam uma “tampa” da menina mais bonita da escola. Ao falarem com os amigos, dizem que ela é extremamente burra… pois! Quando me dizem que Alegre deveria ter sido a primeira escolha do PS, respondo simplesmente que a visibilidade politica deste candidato só surgiu com o seu confronto com Mário Soares e o PS. A sua pose rebelde que lhe vale votos, só foi possível por este não ter sido apoiado pelo PS. Se tivesse sido o candidato oficial, estas eleições teriam sido, para Cavaco Silva, um passeio até Belém.

Sendo eu de esquerda, restava-me portanto dois candidatos: Mário Soares e Francisco Louçã. O meu voto foi para Mário Soares, o tal que todos querem ver de pantufas! Soares pode ser acusado de todas as falhas de memória, cansaço, e até uma certa arrogância cultural. A contundência de Soares caiu mal em muitos eleitores. Mas essa agressividade explica porque este lutou pela democracia enquanto Cavaco lutou apenas por medalhas (que nunca obteve…). A questão cultural incomodou muitos dos eleitores. Na verdade Soares revelou desconhecer os portugueses. Num país pudico ter convicções vincadas é um pecado.

Os portugueses preferem um Cavaco insípido, ao genuíno Soares. Só isso explica a indiferença destes perante a ausência de posições claras, por parte de Cavaco, sobre os mais variados assuntos. A displicência como trata a cultura é apenas uma das suas facetas. Lembremo-nos que este escolheu para Secretário de Estado da Cultura: Santana Lopes... Admito que para a eleição de um Primeiro-ministro as questões culturais sejam menos importantes – embora isso também explique a forma como a cultura tem sido tratada em Portugal – mas para um futuro Presidente da República são relevantes. Afinal que figura fará Portugal se um convidado institucional do PR revelar possuir uma maior cultura sobre Portugal do que este?

Mas aquilo que me afasta definitivamente de Cavaco Silva é a sua incapacidade de se comprometer. Nós sabemos que Soares é frontalmente contra a globalização neoliberal – o que muito incomoda Belmiro de Azevedo – e qual é a posição de Cavaco Silva? Afinal ele é Social Democrata (com tudo o que a palavra social implica) ou será que estamos perante um adepto da luta fratricida entre os povos da aldeia global? Alguém é capaz de responder?

Um homem que não tem coragem sequer de falar das suas preferências pessoais merece a confiança para um cargo que nos vai representar perante outros chefes de estado? Eu prefiro a exaltação de Soares, ao defender as suas posições, do que o calculismo de Cavaco.

Ao escolher entre o candidato da direita e os candidatos da esquerda estamos a dar uma indicação aos políticos e empresários do tipo de sociedade que queremos. Quem discorda da política de cariz mais liberal de José Sócrates, dificilmente poderia votar em Cavaco Silva, mas curiosamente é isso que parece estar a acontecer, de acordo com as sondagens. Que sentido faz, quem discorda das políticas de Sócrates, votar em alguém que está à direita deste? Uma vingança? Talvez estes devam reflectir nesta pequena história: um familiar meu contou-me uma história vivida, nos Estados Unidos, por um familiar deste. Numa garagem vários trabalhadores esperam que um cliente chegue com a sua viatura. Este refere os problemas do carro, e os vários trabalhadores competem entre si para apresentar o preço mais baixo ao patrão. Um mero leilão, sem qualquer garantia para os trabalhadores. É este o mundo que queremos?

Podem afirmar que Cavaco está longe de corroborar estes procedimentos. Mas perante o seu silêncio cauteloso, alguém consegue ficar verdadeiramente descansado?

6 Comments:

Blogger José Fernandes dos Santos said...

Penso que no balanço final, a eleição de Cavaco Silva, vai ajudar o Governo de Sócrates a implementar as medidas mais anti-populares. Com um presidente à esquerda este teria de ser porta voz das reclamações e reivindicações daqueles que estão a ser afectados e tenderia a travar o governo. Acho que muitos funcionários públicos ainda se vão arrepender de ter votado Cavaco.
Um abraço.

10:07  
Blogger SIPO said...

O silêncio também vence eleições resta saber se também será suficiente para 'reinar'!

18:33  
Blogger Edu said...

...bem, o que me preocupa é haver pessoas que aparentemente NUNCA votarão num candidato que não é do seu lado (esquerda ou direita ou qualquer outra direcção supostamente ortogonal às restantes) mesmo que este fosse a melhor pessoa para o cargo... ;-)

23:44  
Blogger brunobd said...

Inteiramente de acordo, jfs, é isso mesmo que eu defendo no meu texto. Aqueles que sendo de esquerda, votaram em Cavaco, saltaram da frigideira para o lume!

Um abraço.

00:16  
Blogger brunobd said...

Uma boa questão, sipo! A meu ver Cavaco, com um PM eleito com maioria absoluta, vai preferir deixar o tempo fazer o seu trabalho…

Um candidato que preparou pacientemente a sua candidatura durante dez anos, não se vai preocupar com o tempo imediato. Arrisco mesmo a afirmar que ele vai apoiar (para já) o governo PS. Com esta estratégia fragiliza o “Ganda nóia”, permitindo que surja outro líder mais credível, para o assalto às legislativas, em 2009.

00:21  
Blogger brunobd said...

Eduardo S, eu nunca iria votar num candidato que preconiza medidas ainda mais à direita do que aquelas implementadas pelo governo PS… é a velha questão da frigideira e do lume ;)

00:29  

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