Wednesday, February 15, 2006

Cahiers du cinéma #609

Comprei finalmente a Cahiers du Cinéma do mês de Fevereiro. Na capa surge uma das actrizes contemporâneas mais extraordinárias: Isabelle Huppert. O último filme que vi com a sua presença foi I Love Huckabees. O primeiro filme que vi dela foi Une Affaire de Femmes de Claude Chabrol.

Um dos que mais contribuíram para a posição destacada da actriz foi precisamente este realizador, fazendo dela uma das suas musas. A primeira colaboração entre eles, Violette Nozière, valeu à actriz o seu primeiro prémio de interpretação feminina do Festival de Cannes. L’ Ivresse du Pouvoir é o seu último filme juntos.

A sua versatilidade conjuga-se com os papéis que escolhe. Na maioria dos casos as suas personagens são assoladas por uma dose de loucura que a afastam do pragmatismo. Não estou a falar de uma loucura para agradar a um público que quer esquecer o seu dia-a-dia cinzento. Por vezes a loucura de Huppert é daquela que assusta mesmo! Os seus papéis, que mais tarde se tornam clássicos, são quase sempre controversos e, por vezes, podem mesmo chocar as pessoas mais susceptíveis. A Pianista é apenas o mais conhecido, mas Ma Mére de Christophe Honoré também não deixa ninguém indiferente. E o que dizer de Malina? E da mulher que orquestra o assassinato de uma família inteira em La Cérémonie?

Huppert consegue com a sua interpretação em Malina de Werner Schroeter um dos seus papéis mais desconcertantes. A prémio Nobel da literatura, Elfriede Jelinek, assina o argumento desse filme. Como se sabe é ela a autora do livro que deu origem ao filme de Michael Haneke, com o qual, Huppert, ganhou o seu segundo prémio de interpretação feminina em Cannes.

A Pianista é um dos melhores exemplos da capacidade, da actriz, em criar personagens verdadeiramente perturbantes. No fim do filme, Huppert, caminha na rua tão misteriosa e inacessível como no início do filme. Apesar de termos visto alguns dos momentos mais íntimos da sua personagem, continuamos sem saber quem é aquela professora de piano.

Alguns realizadores aproveitam a faceta original de Huppert para o humor e surge-nos algo insólito e do qual dificilmente nos esquecemos. Lembram-se da ex-freira que ganhava a vida a escrever romances pornográficos? Eu lembro-me! Mas podíamos continuar com 8 Femmes e, ultimamente, I Love Huckabees, de David O. Russell, do qual já dei conta neste blogue.

Esperemos que a última colaboração entre Chabrol e Huppert passe por cá rapidamente.

2 Comments:

Blogger Mono said...

Não gostei mesmo nada do I love Huckabees. Tinha grandes expectativas em relação ao David O. Russel depois do excelente 3 Reis, mas este desiludiu-me em grande.
A Isabelle Huppert é genial!

13:02  
Blogger brunobd said...

O filme passou despercebido por cá, mas eu gostei do filme.

Poderá não ser uma obra-prima mas não gostar dele, de todo, parece-me difícil. A loucura que o atravessa é contagiante. As personagens são fascinantes. E a ideia, apesar de simples, consegue atingir o espectador. Todo o filme é atravessado por dicotomias drásticas. E apesar destas implicarem um mundo a preto e branco, a verdade é que saímos do filme com a certeza de um mundo plural.

Este filme é um gozo aos que tentam explicar a complexidade dos nossos dias com duas ou três teorias.

Diferenças à parte, na Huppert concordamos em absoluto!

21:24  

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