Tuesday, January 31, 2006

Film Comment

Comprei hoje a primeira Film Comment de 2006. Na capa está o novo filme de Woody Allen. É praticamente consensual, entre público e crítica, que Allen fez um dos seus melhores filmes dos últimos anos. É unânime também que este filme é diferente do esquema habitual do realizador. A frieza de Chris Wilton (Jonathan Rhys-Meyers) está distante das personagens nervosas habitualmente interpretadas por Allen. E o que dizer da sequência mais explicitamente sexual do cinema deste realizador. Aquela mão no rabo de Scarlett Johansson não deixa nenhum homem indiferente. As semelhanças com Crimes e Escapadelas – para mim, um dos cinco melhores filmes dele * – são evidentes, mas enquanto Judah Rosenthal (Martin Landau) deixava o acto para o seu irmão, Chris executa-o. Entre eles há um universo inteiro a separá-los.

Como habitualmente a Film Comment publica a lista dos melhores filmes do ano. No sítio da revista temos acesso a uma lista com cinquenta filmes (na revista aparecem apenas os vinte primeiros). Como todas as listas tem pontos comuns e opostos à nossa. Desta lista destaco a terceira posição de Reis e Rainha, a segunda posição do excepcional 2046 e o primeiro lugar do novo filme de Cronenberg. Se bem se lembram a revista Cahiers du Cinéma colocou este filme em segundo lugar. Um grande filme em perspectiva e nós sem o poder ver…vai um DVD?

Quem não quiser comprar a revista pode deliciar-se com duas entrevistas online: uma a Lars von Trier, com uma headline deliciosamente provocadora: “Torture is fine” e outra à realizadora Claire Denis.

* Os outros são Manhattan, Zelig, Another Woman e Deconstructing Harry.

Monday, January 30, 2006

Peanuts #3

Cliquem na imagem para poderem apreciar este pedaço dos Peanuts com Lucy, Linus e as estrelas.

Publicado originalmente a 28 de Janeiro de 1959.

Peanuts #2

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Friday, January 27, 2006

The Prisoner of Shark Island - DVD

Estão desde segunda-feira disponíveis mais dois títulos da colecção Masters of Cinema da editora Eureka. A minha atenção vai contudo para o dia 20 de Março. Nessa data a mesma editora lança The Prisoner of Shark Island. Quando eu o comprar será o terceiro filme de John Ford na minha DVDteca. Os outros dois são Stagecoach e She Wore a Yellow Ribbon das Editions Montparnasse.

Se já tinha visto os outros dois, antes do DVD, vou ver este filme de 1936, pela primeira vez, graças ao DVD. Este formato permite a cada um de nós programar a nossa própria cinéfilia. Antes do DVD só podíamos contar com a cinemateca (ou RTP2) para ver filmes antigos para colmatar ou apurar o nosso conhecimento sobre um dado período ou realizador.

Quando referimos as nossas preferências, deveríamos honestamente dar, a quem nos escuta, a lista dos filmes que vimos. Por vezes os filmes que não vimos são tão determinantes para as nossas listas, como aqueles que já vimos.

Alguma vez poderemos dizer qual é o nosso John Ford preferido? Perante uma obra tão imensa vão faltar sempre vários filmes. E obviamente não estou a falar daqueles que se perderam (para sempre?). Falo por exemplo do filme que será editado em Março pela Eureka. Podem-me dizer que está longe de ser um dos filmes essenciais de John Ford. Seria pior não ter visto ainda Stagecoach, continuam. Mas a verdade é que, por vezes, as surpresas vêm precisamente de filmes menos citados.

Dos filmes de John Ford que já vi, The Man Who Shot Liberty Valence, surge como o meu preferido. James Stewart interpreta Ransom Stoddard e assina um dos papeis mais Caprianos de sempre, nas mãos de Ford. As personagens de Frank Capra acreditam num mundo melhor e na capacidade de regeneração e redenção do ser humano. Stoddard partilha os valores humanistas habituais das personagens de Capra. Stoddard defendia as suas convicções de jovem advogado com veemência. Acreditava no direito do ser humano em expressar livremente as suas opiniões. A imprensa assumia, para ele, um carácter decisivo, pois permitia tornar reais, estes direitos. Era através desta, e da educação, que as pessoas podiam ser esclarecidas.

Mas o universo de Ford é mais rude e desencantado do que o de Capra. Aqui a regeneração não acontece. Stoddard sem a ajuda de ninguém seria simplesmente humilhado, derrotado e finalmente morto. Tom Doniphon (John Wayne) evita que isso aconteça. O seu acto permite que o novo mundo das palavras triunfe sobre o das armas. O tiro que dispara contra Liberty Valance (Lee Marvin) é o último gesto de um tempo que finda. A grande ironia deste filme é que ao fazer isso o tempo de homens como tom também cessa. No futuro o mal combater-se-á através no mundo da lei e da política. Os homens do coldre deram lugar aos futuros senadores como Ransom Stoddard.

Em Capra há uma dialéctica entre o idealista que quer mudar o mundo e o cínico que acaba por se converter à fé do primeiro. Em Ford essa possibilidade não existe. O mal nunca se afastará sem ser derrotado. Nos filmes de Capra os cínicos precisam apenas que alguém lhes volte a dar esperança. O papel dos idealistas é exactamente esse: se Jefferson Smith (Mr. Smith Goes to Washington) acredita que é possível lutar contra os poderosos, que desculpa têm aqueles que se converteram ao sistema. O seu calculismo é destruído pela tenacidade e romantismo de homens puros. Assim, para Capra, não há seres intrinsecamente maus; são as circunstâncias que os fazem. Cabe ao idealista mostrar que nenhuma desculpa serve para abraçar o território do mal.

Esse mal dilui-se em Capra, vindo ao de cima em Ford. O mal absoluto, com o qual não pode haver negociação nem contemplações é explicitado no líder dos Clanton (My Darling Clementine), Shiloh Clegg (Wagon Master) e o próprio Liberty Valence. Para Ford não há mistura possível.

As personagens maléficas de Ford não têm redenção possível. Nos seus últimos filmes essa separação de águas torna-se menos evidente e The Seachers é frequentemente dado como o exemplo supremo disso. No entanto em Cheyenne Autumn isso é talvez ainda mais evidente. Mas será que só no crepúsculo da sua vida Ford soube da existência e se preocupou com os sentimentos do outro, daquele que é marginalizado?

Stagecoach, estreado em 1939, prova que não. No decorrer do filme uma autêntica reviravolta no status social de cada uma das suas personagens. A prostituta, o médico imprestável e o cowboy solitário adquirem perante o espectador uma grandeza enorme. Por outro lado as personagens enfatuadas – e socialmente respeitadas – exibem no fim do filme toda a sua fealdade. As suas únicas preocupações são as aparências, o seu bem-estar e um absoluto desprezo por tudo o resto.

Thursday, January 26, 2006

Paisagem digital #7

Canotiers à Argenteuil (1873) - Pierre-Auguste Renoir

Paisagem digital #6

Estou a ler a biografia de Pierre-Auguste Renoir escrita pelo seu filho, Jean Renoir. A obra é de 1981, mas só foi traduzida em Portugal em 2005, pela editora Bizâncio.

O livro está escrito num tom humilde onde Jean Renoir vai contando episódios que ilustram as obras do seu pai e a sociedade onde estas foram produzidas. Parecem ser pequenas histórias, mas tem o condão de nos transportar para o século XIX e viver de perto os momentos mais bucólicos e desconcertantes da vida do pai do autor.

Para mim um dos grandes fascínios das biografias é a possibilidade de viajar para uma dada época e perceber como o cidadão comum e a sociedade viviam. Este género literário não proporciona somente um melhor conhecimento e uma série de anedotas engraçadas sobre uma dada pessoa, mas possibilita aquilo que muitos livros de história não conseguem.

Infelizmente nem sempre o autor faz justiça ao biografado, felizmente não é o caso. Através das memórias do filho conseguimos realmente entrever aquilo que terá sido o seu pai. As histórias, os desabafos, o humor, o erotismo, a sua visão do mundo e a pintura estão todos lá.

Estou na página 180, Pierre-Auguste Renoir está prestes a conhecer a mãe de Jean Renoir

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Monday, January 23, 2006

Cavaco Silva

É este o homem que, quase de certeza, irá ser “o presidente de todos os portugueses” durante os próximos dez anos. Dizem que é presidente pela margem mínima. Ele e os seus apoiantes não se importam, o que conta são os 50,6 %. Hoje podemos dizer que nenhum candidato de esquerda conseguiria derrotar Cavaco Silva. Os portugueses utilizaram estas eleições como um ajuste de contas com o governo PS.

Mário Soares, em terceiro lugar, foi cilindrado, mas na minha opinião isso não o diminui. A bravura e, talvez insensatez, com que foi para estas eleições, são a chave para todo o seu percurso político. Afinal de contas, quem é que no seu juízo perfeito iria afrontar o regime salazarista, colocando em risco a sua vida e da sua família por uns ideais? Só homens da têmpera de Soares. Os outros, mais sensatos e racionais, foram tratando da vidinha com o bico calado…

Esta derrota em nada diminui aquele que a história colocará como o político português mais importante do século XX. Isto não invalida que a mensagem dos eleitores para Soares tenha sido clara: o século XXI não é para ti.

Elejo o desabafo de Garcia Pereira como a citação maior destas presidenciais:

“Acabámos de eleger um mudo!”

E está tudo dito!

Sunday, January 22, 2006

E o vencedor é...

08:00 PM – Será a essa hora que vamos conhecer as primeiras projecções, que serão depois aferidas ao longo da noite. Tudo aponta para uma vitória do professor Cavaco Silva. Os portugueses voltam novamente a acreditar num D. Sebastião para resolver os seus problemas.

Eu não critico os votos daqueles que sempre apoiaram candidatos de direita. É perfeitamente legitimo votarem no candidato que os representa. Aquilo que me choca é incapacidade de discernir, de quem, sendo de esquerda, vota encandeado em Cavaco Silva, vendo nele O novo Desejado. Só estes justificam a possibilidade deste poder ganhar à primeira volta.

Entre críticas aos candidatos de esquerda estão: a velhice de Soares; o oportunismo político de Alegre; o estalinismo de Jerónimo de Sousa; as questões fracturantes de Francisco Louçã; já para não falar do invisível Garcia Pereira.

Se o meu voto nunca iria para Jerónimo de Sousa e Garcia Pereira, qualquer um dos outros poderia à partida colher o meu voto. Infelizmente a estima que tinha por Manuel Alegre, diluiu-se ao longo da campanha eleitoral. Um homem que procura obter o apoio eleitoral de um partido, que toda a sua vida serviu (e do qual foi um destacado militante) e depois, por puro oportunismo, afirma-se apartidário não merece a minha confiança. Alegre utiliza mesmo esse argumento, como algo de positivo – aproximando-se, desse modo, perigosamente do candidato Cavaco Silva. Mas que valor tem o apartidarismo de Alegre, quando este foi claramente foi rejeitado pelo seu partido? Isto faz lembrar os meninos que levam uma “tampa” da menina mais bonita da escola. Ao falarem com os amigos, dizem que ela é extremamente burra… pois! Quando me dizem que Alegre deveria ter sido a primeira escolha do PS, respondo simplesmente que a visibilidade politica deste candidato só surgiu com o seu confronto com Mário Soares e o PS. A sua pose rebelde que lhe vale votos, só foi possível por este não ter sido apoiado pelo PS. Se tivesse sido o candidato oficial, estas eleições teriam sido, para Cavaco Silva, um passeio até Belém.

Sendo eu de esquerda, restava-me portanto dois candidatos: Mário Soares e Francisco Louçã. O meu voto foi para Mário Soares, o tal que todos querem ver de pantufas! Soares pode ser acusado de todas as falhas de memória, cansaço, e até uma certa arrogância cultural. A contundência de Soares caiu mal em muitos eleitores. Mas essa agressividade explica porque este lutou pela democracia enquanto Cavaco lutou apenas por medalhas (que nunca obteve…). A questão cultural incomodou muitos dos eleitores. Na verdade Soares revelou desconhecer os portugueses. Num país pudico ter convicções vincadas é um pecado.

Os portugueses preferem um Cavaco insípido, ao genuíno Soares. Só isso explica a indiferença destes perante a ausência de posições claras, por parte de Cavaco, sobre os mais variados assuntos. A displicência como trata a cultura é apenas uma das suas facetas. Lembremo-nos que este escolheu para Secretário de Estado da Cultura: Santana Lopes... Admito que para a eleição de um Primeiro-ministro as questões culturais sejam menos importantes – embora isso também explique a forma como a cultura tem sido tratada em Portugal – mas para um futuro Presidente da República são relevantes. Afinal que figura fará Portugal se um convidado institucional do PR revelar possuir uma maior cultura sobre Portugal do que este?

Mas aquilo que me afasta definitivamente de Cavaco Silva é a sua incapacidade de se comprometer. Nós sabemos que Soares é frontalmente contra a globalização neoliberal – o que muito incomoda Belmiro de Azevedo – e qual é a posição de Cavaco Silva? Afinal ele é Social Democrata (com tudo o que a palavra social implica) ou será que estamos perante um adepto da luta fratricida entre os povos da aldeia global? Alguém é capaz de responder?

Um homem que não tem coragem sequer de falar das suas preferências pessoais merece a confiança para um cargo que nos vai representar perante outros chefes de estado? Eu prefiro a exaltação de Soares, ao defender as suas posições, do que o calculismo de Cavaco.

Ao escolher entre o candidato da direita e os candidatos da esquerda estamos a dar uma indicação aos políticos e empresários do tipo de sociedade que queremos. Quem discorda da política de cariz mais liberal de José Sócrates, dificilmente poderia votar em Cavaco Silva, mas curiosamente é isso que parece estar a acontecer, de acordo com as sondagens. Que sentido faz, quem discorda das políticas de Sócrates, votar em alguém que está à direita deste? Uma vingança? Talvez estes devam reflectir nesta pequena história: um familiar meu contou-me uma história vivida, nos Estados Unidos, por um familiar deste. Numa garagem vários trabalhadores esperam que um cliente chegue com a sua viatura. Este refere os problemas do carro, e os vários trabalhadores competem entre si para apresentar o preço mais baixo ao patrão. Um mero leilão, sem qualquer garantia para os trabalhadores. É este o mundo que queremos?

Podem afirmar que Cavaco está longe de corroborar estes procedimentos. Mas perante o seu silêncio cauteloso, alguém consegue ficar verdadeiramente descansado?

Friday, January 20, 2006

O fim dos engarrafamentos?

Físicos alemães, utilizando simulação em computador, chegaram à conclusão que o congestionamento nas vias rodoviárias, diminuiria bastante se os automóveis adoptassem a tecnologia ACC (Adaptive Cruise Control). Este mecanismo pode acelerar ou travar automaticamente os veículos de modo a manter as distâncias fixas entre eles.

Enquanto isto não chega às estradas portuguesas vou rever, Tom Cruise, irritado com o excesso de organização do trânsito, em 2054.

Thursday, January 19, 2006

Finalmente!

Hoje às 19h00 (GMT) começava a longa viagem que a sonda New Horizons irá fazer, até atingir Plutão, em Julho de 2015. A próxima etapa irá acorrer em Fevereiro de 2007: a força gravítica de Júpiter irá acelerar a sonda New Horizons, permitindo-lhe chegar a Plutão em 2015. Sem essa ajuda teríamos de esperar por 2018, para que o encontro se desse!

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Wednesday, January 18, 2006

Será que é desta?

Tuesday, January 17, 2006

Lançamento da missão New Horizons foi cancelado

Infelizmente o lançamento da missão New Horizons foi cancelado. O novo lançamento está previsto para amanhã às 18h16 (GMT).

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New Horizons' launch

Hoje às 18h24 (GMT) o lançamento do foguetão Atlas 5 irá dar início à longa caminhada da missão New Horizons. Só em Julho de 2015, a New Horizons terá atingido o seu primeiro objectivo: Plutão.

Sendo Plutão o planeta menos conhecido do Sistema Solar – não há sequer uma imagem satisfatória dele – esta missão reveste-se de bastante importância. É necessária informação mais detalhada e rigorosa do planeta e dos seus satélites, em particular os dois que foram descobertos o ano passado; verificar a existência ou não de anéis à volta do planeta; e finalmente a obtenção de fotografias decentes de Plutão e dos seus satélites.

É fundamental que a missão New Horizons esteja no ar antes de 3 de Fevereiro. Depois desse dia a New Horizons só chegará a Plutão, no cenário mais optimista, em 2018. No primeiro caso a sonda irá aproveitar a aceleração provocada pela força gravítica do planeta Júpiter. Nesse caso, ao afastar-se do planeta a sonda continuará a sua viagem a uma velocidade de 21 quilómetros por segundo. Depois do dia 3 de Fevereiro a trajectória percorrida pela sonda não vai poder aproveitar o auxílio de Júpiter, demorando portanto mais tempo a perfazer a distância até Plutão. De salientar que se o lançamento for depois do dia 14 de Fevereiro a sonda não conseguirá atingir Plutão. Para todas as missões existe uma "janela temporal" que tem de ser respeitada, sob pena da missão ter de ser adiada por bastante tempo. No caso de Plutão é ainda mais grave porque este continuará a afastar-se cada vez mais até atingir o afélio (o ponto mais distante da órbita de um planeta em relação ao Sol - no caso de Plutão dista do Sol 49,3 AU) inviabilizando a missão.

Depois do encontro com Plutão a NASA pode ainda estender essa missão a outros objectos da Cintura de Kuiper com um diâmetro igual ou superior a 50 quilómetros.

Podem assistir em directo ao lançamento do foguetão no sítio da BBC News ou na NASA TV.

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Monday, January 16, 2006

Stardust & New Horizons

Ontem poisou no deserto de Utah, nos Estados Unidos, a cápsula transportada pela sonda Stardust. Os cientistas vão poder finalmente investigar as partículas aprisionadas na cápsula de alumínio. O material recolhido é uma mistura de partículas interestelares e do cometa Wild 2.

Tal como já tinha referido anteriormente, o interesse nestas partículas deve-se ao facto de permanecerem inalteradas, desde a origem do Sistema Solar. Ao estudá-las, os cientistas estão a recuar no tempo.

A NASA está imparável e amanhã será a vez do lançamento da missão New Horizons, pelo foguetão Atlas V 551. Plutão, Caronte e os objectos da Cintura de Kuiper são o objectivo desta missão.

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Friday, January 13, 2006

Cahiers du cinéma #608

A Cahiers du Cinéma de Janeiro tem como habitualmente o top 10 dos críticos da revista, bem como dos seus leitores. Last Days ocupa a posição cimeira na redacção, enquanto Cronenberg (A History of violence) e Garrel (Les Amants réguliers) ocupam a segunda posição ex-aequo. As preferências dos leitores vão para A History of Violence. Infelizmente ainda não estreou por cá e neste momento não há nenhuma data prevista!

Mas o grande destaque desta edição é a análise do filme Sunrise por Hervé Aubron. Este é um dos conteúdos que está disponível no sítio da revista.

Numa pequena notícia os Cahiers dão conta do início da rodagem, em Dezembro, do novo filme de Alain Resnais: Petites Peurs partagées. É a adaptação de uma peça de Alan Ayckbourn, o mesmo dramaturgo de Smoking/No Smoking.

Thursday, January 12, 2006

Welkom!

Um grande amigo meu começou a dar os primeiros passos na blogosfera. A física, a música, a Holanda e muito humor estão garantidos em Se Feynman fosse um Beatle. Bem-vindo ao mundo dos blogues!

Wednesday, January 11, 2006

Gazeta de Física

Recebi ontem a Gazeta de Física do último trimestre de 2005! Tem vários artigos interessantes, mas aquele que eu li logo, foi a biografia do matemático, Ruy Luís Gomes, da autoria de João da Providência. A história da ciência agrada-me particularmente, pois permite conciliar dois universos em geral apartados: a cultura científica e a humanista.

É um prazer descobrir os caminhos, muitas vezes sinuosos e cheios de pontos de interrogação, que os cientistas têm de percorrer, até atingir os seus objectivos científicos. Ao conhecer melhor as suas vidas, apreendemos também o tipo de sociedade com que tiveram de conviver.

A vida do brilhante matemático português decorreu no Estado Novo e ele foi uma das suas vítimas, ao ser demitido, por Salazar, do seu cargo de professor universitário. É bom dar a conhecer estes exemplos pois, infelizmente, alguma direita actualmente não resiste à tentação de reescrever a história. Aproveitando as actuais dificuldades económicas que o país atravessa, contrapõem a segurança ilusória do Estado Novo. Com argumentos económicos tentam-nos convencer que a liberdade de pouco vale, quando não se têm dinheiro.

Para quem considerar esse argumento pertinente, eu faço aqui uma pequena citação do texto de João da Providência sobre o biografado:

“Em 1947, Ruy Luís Gomes foi demitido de Professor Catedrático da Universidade do Porto, pela ditadura salazarista. Na sequência de feroz perseguição política e impossibilitado de desenvolver a sua actividade científica e académica em Portugal, viu-se obrigado a procurar o exílio.”

A segurança do Estado Novo – condenada a prazo devido à persistência no colonialismo – não pode justificar o afastamento de todos aqueles que pensavam de forma diferente. Não se pode trocar a liberdade de pensar por dinheiro!

Tuesday, January 10, 2006

Paisagem digital #6

Les Arbres verts ou Les Hêtres de Kerduel (1893) - Maurice Denis

Paisagem digital #5

Faz lembrar o quadro Les Arbres Bleus… e não é por acaso…

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Monday, January 09, 2006

Angela Merkel

O meu blogue é dedicado ao cinema e à física mas por vezes vou abrir excepções. A entrevista da Chanceler alemã ao Der Spiegel é uma delas. A notícia já foi veiculada por todos os órgãos de informação, mas fiz questão de não deixar passar em branco a afirmação de Angela Merkel no Projector Lunar.
“An institution like Guantanamo can and should not exist in the longer term.”
Os direitos humanos são para todos, mesmo para aqueles que cometeram os piores crimes. Não se pode ceder nisto. As excepções (por isto ou por aquilo) acabam sempre por ser uma desculpa para os piores crimes, em nome do Estado. Começa-se por retirar os direitos aos terroristas e depois é o próprio cidadão comum que vê a sua privacidade invadida… Na mesma entrevista a propósito do rapto do filho de um banqueiro alemão, Merkel, afirma isto:
“The issue then was whether it is legitimate to threaten or use torture to save the life of a child. The public debate showed that the overwhelming majority of citizens believed that even in such a case, the end does not justify the means. That is also my position.”

Friday, January 06, 2006

Saraband - Ingmar Bergman

No topo da minha lista surge um filme estreado internacionalmente em 2003: Saraband. Este filme de Ingmar Bergman conquistou-me imediatamente. Apesar de ter estreado em Janeiro, não houve um único filme que tivesse derrubado da posição cimeira que ocupa na minha lista. O mais surpreendente é que eu nem sou um admirador incondicional de Ingmar Bergman. Aprecio vários dos seus filmes – especialmente Fanny e Alexandre – mas nunca foi um dos meus realizadores de eleição. Assim, é uma surpresa para mim próprio, o destaque deste filme na minha lista.

Quando um filho afirma desejar que o pai morra de uma doença prolongada e dolorosa de quem é a culpa? De onde nasce tamanho ódio? Haverá uma resposta simples a estas questões? Henrik (Börje Ahlstedt) revela estes pensamentos tenebrosos acerca do pai a Marianne (Liv Ullmann), divorciada deste há mais de trinta anos, numa igreja. Ela sabe que o antigo companheiro não era uma pessoa fácil, mas o modo como olha para Henrik diz tudo: ela não estava preparada para uma confissão de ódio tão violenta. Antes e depois das palavras amargas e ressentidas de Henrik o filme de Bergman passa por dois momentos sublimes. Marianne entra na igreja ao som de Bach e o cenário transporta-nos para um espaço paradisíaco de absoluta paz. Pouco depois, descobrimos que Henrik está a ensaiar uma peça de Bach, num órgão com uma sonoridade excelente. Ao longo do filme este recurso vai ser utilizado mais vezes. A música para Bergman está incluída na vida, sendo mais do que uma mera banda sonora. Antes de sair da Igreja, Marianne olha para uma representação do Menino Jesus e do seu Pai: o segundo momento de contemplação. A dependência do primeiro em relação ao segundo e as barbas deste último remetem para Henrik e para o seu pai, Johan (Erland Josephson). A paz daquele retábulo e a música sagrada de Bach contrastam com a péssima relação entre ambos.

Esta sequência e no fundo o filme no seu todo tratam desse enigma que é a arte e a beleza não serem suficientes para acabar com os horrores do mundo. Se cada imagem de Nuit et Bruillard de Alain Resnais nos questiona como foi possível ter sido um dos povos que mais contribuiu para a elevada matriz cultural europeia a causa de tanta destruição e carnificina, também aqui Bergman exibe a extrema fragilidade da arte. Num Universo repleto de raiva e rancor a arte parece ser a única porta para o nosso espírito sair. O acesso a esta é contudo limitado no tempo e no espaço e esse é o nosso inferno.

Num filme onde cada uma das cinco personagens vive rodeada de cultura, essa fruição estética não os torna grandiosos, nem melhores. Um bom exemplo disso ocorre quando Henrik vem pedir dinheiro emprestado ao pai para poder comprar um violoncelo melhor para a sua filha Karin (Julia Dufvenius). Johan está na sua biblioteca onde os livros são tantos que alguns estão empilhados no chão. Mas este cenário cultural assiste impotente ao diálogo amargurado entre os dois. O espectador enquanto assiste à disputa entre eles tenta descortinar quem tem razão. Na verdade como o filme irá revelar nenhum deles a têm. Ambos são vítimas dos seus egoísmos.

Na realidade só as mulheres parecem querer mudar esta aparente contradição entre a arte que se consome e as relações humanas que desenvolvemos. Os homens não se conseguem libertar dos seus demónios, e afundam-se com eles durante o filme. A fotografia que mostra o corpo nu de Henrik à porta de casa depois da sua tentativa de suicídio assusta. Ele deixou de existir depois da morte da sua esposa Anne. São elas que detém a iniciativa. É Marianne quem se dirige ao espectador, é devido à sua iniciativa que o encontro com Johan ocorre. Karin é o centro de atenção do seu pai e do seu avô. E mesmo Anne, já falecida, é recordada por todos, principalmente os homens. Durante o filme paira a filha de Marianne e Johan que vive num asilo. Vai também ser a filha deles, Martha (Gunnel Fred), a chave deste filme, como se verá na última sequência.

Num filme que assume um desespero atroz na sequência em que Johan grita e chora no corredor como um louco, devido ao medo da solidão que a visita da sua esposa lhe vem recordar, temos para contrapor os relatos da relação extraordinária entre o filho de Johan e da sua esposa Anne. De certo modo o sucesso da afinidade deste casal era fonte de interrogações para todos. Johan confessa a Marianne que nunca entendeu como o seu desastrado filho conseguiu uma relação perfeita com uma mulher. Se profissionalmente Henrik não atinge a genialidade do pai, na relação com a sua esposa suplantou-o. Se uns criam obras de arte, outros fazem da própria vida a sua obra de arte. Infelizmente a arte depois de criada pode subsistir durante séculos e mesmo quando é destruída pode ainda perdurar na memória dos homens. Uma relação humana é infelizmente bastante precária e por isso a vida tão frágil. Perfeita num dado momento e trágica pouco depois. Os problemas de Henrik com a filha e o seu posterior suicídio tornam este filme ainda mais negro. Perante o fracasso do único elemento capaz de estabelecer uma relacão o que terá Bergman para oferecer ao espectador?

Martha! Durante anos a visita a que Marianne lhe fazia era simplesmente um sacrifício e mesmo uma tortura. Os sonhos grandiosos que os pais imaginam para os seus filhos estavam no caso de Martha completamente enterrados. Martha simplesmente não comunicava com as visitas e a visita era apenas circunstancial.

No fim do filme Marianne vai mais uma vez visitar a filha ao hospício. Esta visita é contudo diferente de todas aquelas que efectuou ao longo dos anos. Pela primeira vez cuida verdadeiramente dela: acaricia-a com as pontas dos dedos e tira-lhe os óculos. Perante um gesto inesperado a filha assusta-se. Até então Martha era para ela apenas um fardo e uma árvore que nunca daria um fruto. Mas naquela visita, a mãe esquece-se de todos os sonhos que teve para a sua filha e não exige nada em troca. Finalmente aceita as limitações da sua filha. E é então que numa espécie de milagre a sua filha abre os olhos. A comunicação entre mãe e filha tinha acontecido. Do modo mais subtil possível Bergman dá ao espectador uma lição magistral de humanidade.

Thursday, January 05, 2006

Top 10 - 2005


Nos próximos dias vou justificar esta lista. Entretanto no primeiro mês do ano temos - já nos estamos a habituar - um Woody Allen!

Wednesday, January 04, 2006

Pedaços do céu...

No próximo dia 15 a sonda Stardust regressa à Terra. No seu interior estão armazenadas amostras do cometa Wild 2 e de poeira interestelar. As amostras do cometa foram colhidas a 2 de Janeiro de 2004. A sonda Stardust passou a uma distância 236 quilómetros do cometa.

Afinal qual é o interesse de analisar a constituição dos cometas? Aquilo que desperta a curiosidade dos cientistas é o facto dos cometas serem formados pelos restos mais primitivos do Sistema Solar. A matéria que não serviu para formar os planetas e os seus satélites, ficou para sempre aprisionada nos cometas. Assim, as amostras que os cientistas vão analisar, depois do dia 15, permitem aceder à matéria inalterada desde o princípio da formação do Sistema Solar.

Ao examinarem o conteúdo estão na realidade a realizar uma viagem no tempo. Vão poder recuar ao tempo em que o nosso Sistema Solar se estava a formar…há quatro mil e quinhentos milhões de anos.

Durante a maior parte do tempo os cometas orbitam no interior da Nuvem de Oort ou na Cintura de Kuiper, onde as temperaturas são pouco maiores do que o zero absoluto. Também não é para menos, pois a distância da Nuvem de Oort ao Sol pode ser mais de 50 000 mil vezes a distância da Terra ao Sol.

Na fase terminal da sua estadia no Sistema Solar, os cometas saem dos confins do sistema Solar e cruzam as órbitas dos planetas interiores. Ao aproximarem-se do Sol, surge a cabeleira, pela qual são conhecidos. A cabeleira resulta do aquecimento da parte exterior do cometa. Quanto mais perto do Sol passarem, mais ficam sujeitos a serem ejectados do Sistema Solar ou colidir com algum planeta, como aconteceu com o cometa Shoemaker-Levy 9.

Além das emissões gasosas, que podem ser observadas da Terra através de telescópios, também há a emissão de partículas de poeira e bocados de rocha. São estes que interessam aos cientistas. A missão serviu também obter imagens de um cometa como nunca se tinha conseguido.

Podem acompanhar a contagem decrescente para o regresso desta sonda no sítio dedicado a esta missão.

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Tuesday, January 03, 2006

La Strada - DVD

Finalmente encomendei na cd-wow a edição da Criterion de La Strada. Foi o primeiro filme de sempre a receber o Oscar para melhor filme em língua estrangeira. Federico Fellini é visto por muitos como o exemplo máximo de um realizador como autor. A sua excentricidade e os seus temas recorrentes de filme para filme tornam evidente a sua marca. Mas este filme destaca-se também pelos actores: Anthony Quinn interpreta o rude Zampanò; enquanto Giulietta Masina interpreta a doce e ingénua Gelsomina.

Sem estas criações, por parte dos actores, o filme perdia parte do encanto. Isso não diminui o mérito de Fellini, pois a obra no seu conjunto reflecte as precupações de Fellini, nomeadamente na redenção do ser humano. Como argumentista Fellini escreveu vários argumentos onde havia essa redenção. Um desses argumentos - não utilizado, por ter sido rejeitado por Anna Magnani - foi o embrião para Le Notti di Cabiria e para a personagem de Cabiria.

Em La Strada a redenção cabe a Zampanò. O homem que virava as costas ao mundo, tal como este sempre lhe fez, percebia no fim a falta que Gelsomina lhe fazia. A rudeza tinha sido destruída pela simplicidade e simpatia de Gelsomina.

Agora é só esperar que o carteiro o coloque na minha caixa do correio.

Monday, January 02, 2006

Cadernos do Subterrâneo - Fiódor Dostoiévski

Para iniciar as minhas leituras em 2006 escolhi Fiódor Dostoiévski. Depois de Submissa escolhi agora Cadernos do Subterrâneo. É um livro constituído por duas partes. Na primeira, o narrador tenta explicar e convencer o leitor, daquilo que o levou ao isolamento, figurado no subterrâneo. Dostoiévski cria uma dicotomia entre o racionalismo humano e os desejos que estes acalentam.

O narrador torna patente o receio da razão vir a assumir um completo controlo do ser humano. Se esta conduz o ser humano às mesmas conclusões, pois proporciona em principio as melhores soluções, isso conduziria o ser humano ao seu inevitável aprisionamento. Com o algoritmo ideal todos chegariam à melhor solução, tornando-se esta a única aceitável. O desejo vem baralhar as certezas e possibilita outras escolhas, por vezes não aconselháveis pela razão.

Dostoiévski apresenta assim os caprichos e os desejos como a liberdade última da vontade humana. Sem eles seria possível prever o comportamento de um ser humano, através de um qualquer algoritmo. Assim, mesmo que os desejos o possam prejudicar, o Homem não abdica deles, pois deve-lhes a sua individualidade. Esta só é possível devido aos caminhos distintos que cada um percorre para alcançar os seus desejos. É nesta pesquisa que o homem adquire a sua humanidade e se afasta da possibilidade de vir a ser uma maquina dominada por um conjunto de operações predefinidas.

Cadernos do subterrâneo foi publicado pela primeira vez na revista Epokha em 1864. Depois deste post vou ler a segunda parte intitulada “Por motivo da neve húmida” e então voltarei a escrever sobre este livro. Quem não quiser comprar o livro da Assírio & Alvim e não estiver disposto a passar numa biblioteca pode ler este livro em inglês através deste sítio dedicado ao escritor russo.